Pular para o conteúdo principal

o que é Literatura

Por muito tempo da antiguidade, passando pelo renascimento ao período romântico, com a leitura e a releitura de Platão e Aristóteles a arte poética fora entendida enquanto mimesis. Noção que foi se modificando como mostra a história literária. M. H. Abrams, por exemplo, explica que a teoria pragmática (ênfase no efeito produzido por uma obra de arte poética) e com a teoria expressiva (ênfase na subjetividade do poeta), começou-se a dar ênfase na percepção do mesmo. Já a teoria objetiva focalizava a arte poética enquanto “arte pela arte”, a saber, o texto em si mesmo. No contexto, pós críticas kantianas e junto a ascensão da burguesia no século XVIII e, por conseguinte, a do Romance, a Literatura passou a ser compreendida como área de estudos própria mais do que pela via filológica, mais do que produção de textos escritos e impressos, a arte poética mais do que mera emulação do mundo. Além de pensar no sentido de Literatura como letra, nota-se a história literária que se começou a institucionalizar um campo de estudos próprio.

Do Biografismo, ao formalismo russo, ao new criticism (close reading), ao estruturalismo, ao pós-estruturalismo, à estética da recepção passou-se a ênfase do autor, ao texto, ao leitor. A partir da história literária, no que concerne a definição de um texto literário ou sua diferença em relação a outros campos de conhecimento, sua definição pode ser compreendida por meio da “função poética” (Jakobson), sua literariedade”, o nível de ficcionalização, imaginação, seu valor conotativo (Wellek) e as figuras de linguagem que se apresentam. Neste sentido, um texto literário pode ser lido nestes três níveis, a considerar o autor, o leitor e talvez o mais importante o texto, o que significa se questionar quem escreveu um texto e em qual contexto, qual a recepção de uma obra literária, qual o horizonte de expectativa “deste leitor” e qual a estrutura, o que um dado texto tem de literário, sua ficcionalidade enquanto um construto de linguagem.De acordo com Antoine Compagnon não são todos os textos que podem ser considerados Literatura, pois como afirma: 

“Tudo o que se pode dizer de um texto literário não pertence, pois, ao estudo literário. O contexto pertinente para o estudo literário de um texto literário não é o contexto de origem desse texto, mas a sociedade que faz dele um uso literário.” (p. 45). Compagnon, comenta que ainda que boa parte dos estudos teóricos Literários com o ponto de vista do estruturalismo e new criticism tenha se fixado ao texto e rejeitado a relação entre Literatura e Mundo, o autor mostra como a Literatura também
possui referencialidade. Na sua leitura, “o crítico está diante do livro como o escritor está diante do mundo, mas o escritor nunca está diante do mundo; há sempre o livro entre ele e o mundo.” (p. 137) No nexo entre Literatura e mundo, Compagnon comenta “Na realidade, o conteúdo, o fundo, o real nunca foram totalmente alijados da teoria literária.” (p. 138). Já o nexo entre autor e a Literatura ele comenta:

Quando alguém escreve um texto, tem certamente a intenção de
exprimir alguma coisa, quer dizer alguma coisa através das palavras
que escreve. Mas a relação entre uma sequência de palavras
escritas e aquilo que o autor queria dizer através dessa sequência
de palavras nada assegura em relação ao sentido de uma obra e
àquilo que o autor queria exprimir através dela. (p.80)

Ezra Pound nota que Literatura é “[...] Linguagem carregada de significado” (p.32) e acrescenta “Literatura é novidade que permanece novidade” (p. 33). Nessa direção, a literatura ainda que se refere ao mundo é construto de linguagem em que se seleciona se combina signos linguísticos. Numa leitura diferente, Bernard Mouralis comenta que a literatura é uma instituição, um corpus e um sistema em que se constrói um todo significante. Não é uma ideologia em si é um dado signo de sistema e referências, uma herança de legitimação literária. Compagnon também mostra que por muito tempo a literatura era ensinada como história literária e que em meados do século XVIII tornou-se aos poucos se instituiu uma disciplina de Estudos Literários nas universidades.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

 No delírio da tarde  Eu vi meu rosto.  Na taça emborcada do dia sorvido  Eu vi meu rosto. O cristal se partiu,  Esgotei meus olhos na noite.  Maria Angela Alvim Livro "Superfície" 1950, em Poemas 

A senhora que ali estava/ conto

Pela manhã, Ina resolveu conhecer um novo lugar, estava cansada. Não os pais, não o marido, não as pessoas compreendiam. Então por uma semana passou em uma nova cidade e, todos os dias de manhã caminhava por algumas ruas, achava aquele lugar de aparência agradável. Já que estava passando muito mal mesmo, e as pessoas não poderiam imaginar – resolveu caminhar. Viu uma senhora sentada num banco e pensou em conversar com ela para ver se o tempo passava e aqueles sentimentos de tristeza e insatisfação passassem junto. A senhora prontamente lhe deu bom dia e disse que esperava por coincidência que alguém sentasse ali e falasse com ela também. Perguntou seu nome e ambas disseram uma à outra seus respectivos nomes. O sol pela manhã como de costume naquele lugar estava ameno. Ina percebeu no modo de ser daquela senhora certa avidez para lhe contar algo sobre ela mesma. Achou que deveria perguntar o que ela queria dizer. A senhora lhe disse: ___ A vida é muito difícil, possui nuances de possibi...

Sobre o romance "Perto do coração selvagem"

 Perto do coração selvagem [1944] é “o romance de estreia”, da escritora Clarice Lispector que em torno de seus quase vinte anos é em vida e mais tarde considerada uma das escritoras mais importantes da literatura. Lispector chegou ao Brasil muito cedo, morou em Recife, depois no Rio de Janeiro, estudou e foi casada com um diplomata brasileiro, ao que a possibilitou muitas idas ao exterior Suíça, Itália entre outros lugares, teve dois filhos, escreveu vários romances e contos – escrevera a convite de jornais, era de personalidade introspectiva, à frente de sua época, ao mesmo modo que muitas escritoras brasileiras tais como Lygia Fagundes Telles, Hilda Hilst, entre outras muito importantes.   Em seus contos, novelas e romances é notável uma linguagem irreverente ao modo de James Joyce, Virgínia Woolf, o fluxo de consciência [ the stream of consciousness ] de seus personagens. O texto de Clarice Lispector não se prende a gêneros bem definidos, escritora de contos, novelas que ...