Da cidade de Zirma, os viajantes retornam com memórias bastante diferentes: um negro cego que grita na multidão, um louco debruçado na cornija de um arranha-céu, uma moça que passeia com um puma na coleira. Na realidade, muitos dos ce- gos que batem as bengalas nas calçadas de Zirma são negros, em cada arranha-céu há alguém que enlouquece, todos os lou- cos passam horas nas cornijas, não há puma que não seja cria- do pelo capricho de uma moça. A cidade é redundante: repete- se para fixar alguma imagem na mente. Também retorno de Zirma: minha memória contém dirigi- veis que voam em todas as direções à altura das janela, ruas de lojas em que se desenham tatuagens na pele dos marinhei- ros, trens subterrâneos apinhados de mulheres obesas entre- gues ao mormaço. Meus companheiros de viagem, por sua vez, juram ter visto somente um dirigível flutuar entre os pináculos da cidade, somente um tatuador dispor agulhas e tintas e dese- nhos...
Neste blog, há textos de aulas que assisti durante graduação em Letras, são contos, poemas, entre outros. "Leituras descontínuas" tem relação com as leituras que faço no dia-a-dia. São leituras de poemas, trechos de livros, pois que não existe continuidade nas leituras: lê-se um livro, uma imagem, um outdoor, um poema, um conto, uma crônica, por isso a descontinuidade. A maior parte dos textos - quando meus, são apenas ficções, sem correspondência exata com a realidade.