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Mostrando postagens de janeiro 24, 2016

Que este amor não me cegue nem me siga

Que este amor não me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba. Que me exclua do estar sendo perseguida E do tormento De só por ele me saber estar sendo. Que o olhar não se perca nas tulipas Pois formas tão perfeitas de beleza Vêm do fulgor das trevas. E o meu senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro. Que este amor só me faça descontente E farta de fatigas. E de fragilidades tantas Eu me faça pequena. E diminuta e tenra Como só sóem ser aranhas e formigas. Que este amor só me veja de partida.                                                       Hilda Hilst  Ver: Azougue 10 anos org. Sérgio Cohn. Rio de Janeiro: Azougue Editorial 2004

De tanto te pensar, Sem Nome, me veio a ilusão

De tanto te pensar, Sem Nome, me veio a ilusão. A mesma ilusão Da égua que sorve a água pensando sorver a lua. De te pensar me deito nas aguadas E acredito luzir e estar atada A fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas. De te sonhar, Sem Nome, tenho nada. Mas acredito em mim o ouro e o mundo. De te amar, possuída de ossos e de abismos Acredito ter carne e vadiar Ao redor de teus cimos. De nunca te tocar Tocando os outros Acredito ter mãos, acredito ter boca Quando só tenho prata e focinho. Do muito desejar altura e eternidade Me vem a fantasia de que Existo e Sou. Quando sou nada: égua fantasmagórica Sorvendo a lua n'água.                                   Hilda Hilst Ver: Azougue 10 anos org. Sérgio Cohn. Rio de Janeiro: Azougue Editorial 2004.