quarta-feira, 27 de maio de 2015

Altas horas



Há tantas noites, pairam meus pensamentos
sobre as montanhas ogivais deste lugar e
se adentram espectralmente através das três
faces da cidade: a adormecida, a acesa e a fantasmagórica.

Há tantas noites, eles seguem a imaginar
os corpos esticados enredados na trama dos lençóis.

Há tantas noites, eles abandonam o meu corpo tão desfeito
e fluem em direção a cifra dos segredos...

Além deles... Quantos seres adormecem solitários engolfados
 no próprio desejo de encerramento?

Nas covas da imensa escuridão, quantos corpos se enterram ou
quantas mulheres se debatem à luz de uma nova vida?

Em quantas ruas ou becos se embalam seres transfigurados em
restos de lixo? Seres que seguem como  fantasmas
entregues a eterna convalescença.

Por um lance de minutos, eles pairam novamente... e eu
não quero ir mais contra – que fiquem então ao meu lado,
que me façam ver o espelhamento do dia –  meus pensamentos.

E eles retornam através da descontinuidade e de uma
lógica desfeita ou embaralhada.  De modo latente
e inseguro, eles adentram  à cidade, que expele o seu bafo amargo e úmido.


Mas agora, tudo isso não importa. Enfim...
O dia surge, o sono vem e os pensamentos cessam.


                                                                  Pollyanna Nunes Ramalho Magalhães