Há tantas noites, pairam meus pensamentos
sobre as montanhas ogivais deste lugar e
se adentram espectralmente através das três
faces da cidade: a adormecida, a acesa e a fantasmagórica.
Há tantas noites, eles seguem a imaginar
os corpos esticados enredados na trama dos lençóis.
Há tantas noites, eles abandonam o meu corpo tão desfeito
e fluem em direção a cifra dos segredos...
Além deles... Quantos seres adormecem solitários engolfados
no próprio desejo de encerramento?
Nas covas da imensa escuridão, quantos corpos se enterram ou
quantas mulheres se debatem à luz de uma nova vida?
Em quantas ruas ou becos se embalam seres transfigurados em
restos de lixo? Seres que seguem como fantasmas
entregues a eterna convalescença.
Por um lance de minutos, eles pairam novamente... e eu
não quero ir mais contra – que fiquem então ao meu lado,
que me façam ver o espelhamento do dia – meus pensamentos.
E eles retornam através da descontinuidade e de uma
lógica desfeita ou embaralhada. De modo latente
e inseguro, eles adentram à cidade, que expele o seu bafo amargo e úmido.
Mas agora, tudo isso não importa. Enfim...
O dia surge, o sono vem e os pensamentos cessam.
Pollyanna Nunes Ramalho Magalhães
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