sábado, 6 de julho de 2013

Álvares de Azevedo, Byron: cosmopolitismo e nacionalismo



Durante o romantismo realizado no Brasil, muitos poetas optavam por uma estética vinculada, aos dramas nacionais e alguns até acreditavam que para se consolidar a literatura brasileira era necessário tratar das paisagens locais. Ainda que Àlvares de Azevedo seja um poeta do período romântico da literatura brasileira, a temática de sua poesia não está vinculada àquela tentativa de desprendimento da literatura européia e de dar forma a uma identidade nacional, algo que aconteceu com os escritores categorizados como de primeira geração.
 Ao avaliar o opúsculo de Gonçalves de Magalhaens, no momento em que o autor fala Sobre a História da Literatura no Brasil fica evidente seu caráter de manifesto, ou melhor, o autor dá exemplos literários e históricos destinados a um fim, ou seja, o autor evidencia certo instinto oculto, que pensava ser necessário para a formação de uma literatura nacional. Para Gonçalves de Magalhaens, a paisagem brasileira seria a matéria de poesia necessária para despertar o espírito de uma literatura independente. No entanto, utilizando aqui o mesmo pensamento de Machado de Assis em o Instinto de Nacionalidade, obras como as de Byron e de Goethe, não deixaram de ser valiosas para suas respectivas nações só porque trataram de outras paisagens que não inglesa ou alemã.
Ainda sobre o ponto de vista nacionalista e partindo para um campo politico e filosófico, Martha Nussbaum em For love of Country faz uma dura crítica a respeito de um nacionalismo exacerbado, que substituí valores universais como a justiça e os direitos humanos por valores ligados a um ídolo colorido. o Ensaio de Nussbaum que foi realizado em 1994 e que ganha nova forma após os atentados de 11 de setembro, dá ênfase a uma politica do cosmopolitismo. Já o filosofo Appiah a partir de sua tradição familiar ressalta a necessidade de um patriotismo cosmopolita. Nesse sentindo, ao trazer os conceitos de nacionalismo e cosmopolitismo para o campo literário é nítido observar que autores como Byron e Álvares de Azevedo não detinham em suas obras preocupações nacionalistas e cosmopolitas. Apesar disso, é notável que Byron em seu modo de viver e em sua obra constrói uma personagem desgarrada de sua pátria/Albion,

Adeus ó terras da pátria,/que oculta o ceruleo mar,/Bramão os ventos e as vagas,/Oiço o alcião grasnar: Aquele sol que declina, Nós vamos acompanhando, Não só a ti, mas a ele, Feliz noite desejando. (1863:16)

A voz irônica do peregrino Childe Harold, demostra seu sentimento de exilio diante de uma pátria que não mais poderia o satisfazer. Também é notável, que Àlvares de Azevedo, leitor feroz da literatura europeia, utiliza-se de referências como Byron, Vitor Hugo, Shakespeare, Goethe e Musset, um exemplo disso é sua obra Lira dos vinte anos e o poema O Conde Lopo. Alem disso é possível identificar que Álvares fala da paisagem brasileira, como no poema Na minha terra, pois as palavras pinheiro, mangueira, rancho, viola, serra e laranjeira são típicas do Brasil, entretanto o autor cita também a Itália, portanto se esclarece que a terra desse eu lírico é uma terra que vai além das origens do autor, e está mais ligada à terra de ares góticos, melancólicos, imaginados e inscritos nas obras europeias.

Minha terra sombria és sempre bela,/Inda pálida vida a vida,/ Como o sono inocente da donzela, /No deserto dormida! (1996:16)

A meu ver, não há erro em ser patriota como Whitman cantando a América, Fernando Pessoa cantando a Portugal. O problema se dá, quando se passa por cima de tantos outros valores em nome de uma pátria. Portanto, creio que a poética de Lord Byron e de Álvares não possui uma preocupação direta em ser nacionalista e nem de ser cosmopolita. Contudo é inegável que ainda que o jovem Álvares não tenha viajado fisicamente à Europa, sua literatura revela um enorme conhecimento da cultura europeia e um manejo peculiar com as letras brasileiras. Assim tanto Byron, o romântico Inglês de uma personalidade excêntrica, quanto Álvares de Azevedo são cosmopolitas no sentindo de serem escritores, que de modos diferentes tiveram contato com culturas diversas que não a suas e que trataram de temáticas vinculadas ao amor, ao desejo, as traições, as ambições e as ânsias dos sujeitos errantes, temas esses que são universais.

Referências

APPIAH, Kwame Anthony. Patriotas cosmopolitas. Revista Brasileira de Ciências Sociais vol. 13 n. 36. São Paulo: Anpocs, 1998.
ASSIS, Machado de. Instinto de Nacionalidade. Publicado originalmente em O Novo Mundo 1873, Nova Aguiar, vol. III. Rio de Janeiro: 1994.
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos Vinte Anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996. Coleção (Poetas do Brasil)/ Acessado em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000021.pdf
MAGALHAENS, D. J. Gonçalves de. Opusculos: Historicos e Literarios. Rio de Janeiro: Livraria de B. L. Garnier,1865.

NUSSBAUM, Martha C. Patriotism and Cosmopolitanism. In: M. C. Nussbaum et al. For Love of Country? Boston: Beacon, 1996, reed. 2002; Patriotismo y cosmopolitismo. In: M. C. Nussbaum et al. Los límites del patriotismo. Barcelona: Paidós, 1999.