Pular para o conteúdo principal

Traduzir um texto poético possui nuances e especificidades que as traduções de outros tipos de textos não possuem. O texto poético é mais simbólico e muitas vezes não tem a pretensão de ser “da ordem da informação”. A linguagem poética é repleta de imagens, símbolos, metáforas, figuras de linguagem e está relacionada à imaginação. Um dado tradutor quando se depara com a linguagem simbólica da literatura, sua “função poética” está em um lugar de reflexão e crítica. por isso, a necessidade de “legibilidade” de traduzir ou retraduzir. Os tradutores que em geral são professores, escritores, filólogos, teólogos, poetas, entre outros, ao traduzir um texto literário se vêem diante de um desafio:

A tradução de textos prosaicos ou poéticos é um exercício, uma experiência de crítica e reflexão. Os desafios são inúmeros, tanto no que concerne aspectos formais: rimas, métricas, figuras de linguagem sonoras como as paronomásias, aliterações e assonâncias e sintáticas, aspectos lexicais, quanto do ponto de vista semântico, pois o tradutor se vê no desafio de unir aspectos formais com aspectos semânticos que muitas vezes não é algo tão simples de realizar. Por mais plausível que seja uma tradução, o tradutor precisa ter consciência que traduzir um texto literário não se dá em uma “correspondência” completa ou de palavra por palavra.  Além disso, a tradução de um texto poético depende de muitos aspectos como o conhecimento da língua própria e da língua outra que se traduz ao que é possível notar muitas vezes a mediação de outras línguas envolvidas na prática de tradução.

As traduções de um texto poético tem algo de aporético devido ao nexo não correspondente entre as línguas e ao mesmo tempo na relação entre língua materna e língua outra ou língua fonte e língua meta que nunca se é de forma direta.. As traduções ampliam as formas, os gêneros textuais, as construções de linguagem, o ato de traduzir coloca a língua que se traduz em uma relação de “alargamento”, “ampliação” de suas formas e deu seu léxico.

A tradução enseja o conhecimento de gêneros textuais, de construções de linguagem que muitas vezes revela proximidades e distâncias do ponto de vista da linguagem e culturalmente entre as línguas. Outro aspecto na tradução poética é sobre qual tradição, contexto que um dado texto se insere, uma vez que o tradutor terá que refletir sobre a sua intenção – se a tradução será mais modernizante, ou se manterá aspectos da época do autor que se traduz. Se a tradução do texto está para um público/audiência/leitores mais amplos ou se é mais intimista. Traduções são um modo de contato entre as línguas. Nesse contato que se revela a riqueza das línguas, a multiplicidade e o que uma pode ensinar a outra. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

 No delírio da tarde  Eu vi meu rosto.  Na taça emborcada do dia sorvido  Eu vi meu rosto. O cristal se partiu,  Esgotei meus olhos na noite.  Maria Angela Alvim Livro "Superfície" 1950, em Poemas 

A senhora que ali estava/ conto

Pela manhã, Ina resolveu conhecer um novo lugar, estava cansada. Não os pais, não o marido, não as pessoas compreendiam. Então por uma semana passou em uma nova cidade e, todos os dias de manhã caminhava por algumas ruas, achava aquele lugar de aparência agradável. Já que estava passando muito mal mesmo, e as pessoas não poderiam imaginar – resolveu caminhar. Viu uma senhora sentada num banco e pensou em conversar com ela para ver se o tempo passava e aqueles sentimentos de tristeza e insatisfação passassem junto. A senhora prontamente lhe deu bom dia e disse que esperava por coincidência que alguém sentasse ali e falasse com ela também. Perguntou seu nome e ambas disseram uma à outra seus respectivos nomes. O sol pela manhã como de costume naquele lugar estava ameno. Ina percebeu no modo de ser daquela senhora certa avidez para lhe contar algo sobre ela mesma. Achou que deveria perguntar o que ela queria dizer. A senhora lhe disse: ___ A vida é muito difícil, possui nuances de possibi...

tensão,ovo novelo e plano-piloto para a poesia concreta

O plano-piloto para a poesia concreta publicado em 1958, em noigandres, se realizou na tentativa de esclarecer as intenções dessa nova abordagem poética, que não se interessava pela estrutura linear e discursiva do verso. A proposta dos irmãos Campos e de Décio Pignatari sobre a poesia concreta não era, a meu ver, de uma ruptura com o passado, mas sim de uma evolução das formas poéticas antes utilizadas. Essa teoria se coloca como linha de frente para a poética voltada para além dos recursos verbais.  Os recursos espaciais, como também os sonoros ganham grande importância na construção do sentido. Muitos são os poemas publicados por Augusto de Campos que se relacionam com as ideias presentes no plano-piloto. No entanto, neste trabalho será tratado apenas dois poemas, como “Tensão” e “Ovo novelo”. No poema “Tensão”, é possível perceber a comunicação entre a linguagem verbal, visual e também sonora. com           ...