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Mostrando postagens de 2015

É isso!

O sol me encarava e eu sabia que ele era apenas o fogo que queimava meus lábios pouco a pouco e me fazia sentir que eu não poderia ser mais nada do que isso. Hipocrisia seria dizer que isso é muito, pois é tão pouco. Talvez, não haja arte alguma na vida ou arte é a vida em  inconstante encenação, mas nada disso faz diferença, porque sempre estremeço diante dela. O amor, eu nunca entendi - a palavra, presa em seu labirinto de significações, como o sol não tateável que nunca se apreende. Mas a impossível luz se faz necessária, como o frescor do dia a iluminar a solidão de um bem-te-vi num coreto vazio.

Altas horas

Há tantas noites, pairam meus pensamentos sobre as montanhas ogivais deste lugar e se adentram espectralmente através das três faces da cidade: a adormecida, a acesa e a fantasmagórica. Há tantas noites, eles seguem a imaginar os corpos esticados enredados na trama dos lençóis. Há tantas noites, eles abandonam o meu corpo tão desfeito e fluem em direção a cifra dos segredos... Além deles... Quantos seres adormecem solitários engolfados   no próprio desejo de encerramento? Nas covas da imensa escuridão, quantos corpos se enterram ou quantas mulheres se debatem à luz de uma nova vida? Em quantas ruas ou becos se embalam seres transfigurados em restos de lixo? Seres que seguem como  fantasmas entregues a eterna convalescença. Por um lance de minutos, eles pairam novamente... e eu não quero ir mais contra – que fiquem então ao meu lado, que me façam ver o espelhamento do dia –   meus pensamentos. E eles retornam através da descontinuidade e de um...

Inválida busca

Caminho em busca de algo sempre, em busca de uma direção difusa e ao mesmo tempo pontual, eu procuro um sentido oposto da rigidez cerimonial. Não procuro mais plenitude etérea, apenas procuro incessantemente a hospede expectativa, eis um olhar de ser para ser seminal. Eu busco e busco, mas sempre esse vazio... e regresso e sigo para saber de minha solidão. Tudo isso para acabar serpenteada pelo fio de meu amargo sexo final.

Ich lebe mein Leben in wachsenden Ringen/ Eu vivo minha vida em anéis crescentes

Eu vivo minha vida em anéis crescentes, que se anelam sobre as coisas. Talvez, os últimos não completarei, mas quero tentar. Eu circulo em direção à Deus, à torre de outrora, e circulo por mil longos anos; e eu ainda não sei: se sou um falcão, uma tempestade, ou um grande canto. Trecho: Tradução instrumental - Pollyanna Nunes Ramalho Ich lebe mein Leben in wachsenden Ringen die sich über die Dinge ziehn. Ich werde den letzten vielleicht nicht vollbringen, aber versuchen will ich ihn. Ich kreise um Gott, um den uralten Turm und ich kreise jahrtausendelang; und ich wei β noch nicht: bin ich ein Falke, ein Sturm oder ein gro βer Gesang. Reiner Maria Rilke

Lembranças

  Sobre a mesa da casa, inúmeras fotografias, e no silêncio do recinto despido, tantas memórias vazias, frias e congeladas, soltas ao vento... A velha máquina de escrever, os vestidos finos puídos, os espelhos partidos, lapso de palavras, manchas e urticárias.   As flores mergulhadas em lágrimas, as tílias que não curam do abismo inapreensível do tempo. A contingência do ser e o leve sorriso destruindo-se num flux de velocidade. Um começo & um fim? A existência refletida no mar azul de um doce canto ou  de um simples abismo de recordações.    

O ônibus, a mulher e o dinheiro

          A Leonardo Magalhães, quem imaginei para escrever este conto.  Um dia desses pela manhã, um dia como qualquer outro, estava dentro do ônibus em pé. Olhei em direção a rua e vi tantos carros e então percebi que simplesmente não conseguiria chegar no horário. O ônibus quase parado, fiquei muito nervoso.   Eu estava no fundo do ônibus e após 15 min. uma moça disse, com um sorriso no rosto: __ Senta aí, vou descer! Como chegou ao destino, o alívio dela era visível. Com uma sutil piscada agradeci  e prontamente me sentei.   As minhas pernas também agradeceram.   E em poucos minutos não sentia mais o peso do corpo, estava aliviado. No entanto, sem pensar mais nas dores que sentia nas pernas e no meu atraso, que certamente seria excessivo, pois se perde um ônibus por 2 minutos, perde-se o metrô, chega-se 1 hora em atraso. Comecei a observar os carros que passavam em torno e paralelamente ao ônibus. ...