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Mostrando postagens de 2013

Um respiro

Crescem do coração das trevas cinzas e espessas montanhas Partem do negrume dos asfaltos singelas mendigas de chinelo Aparecem deslanchados nos quintais pequeninas cadelas como a Soneca Serafins anestesiam prostitutas pobres  Constantemente Botos semeiam anjos nas ruas Luzes borradas em meio às telas da realidade nua Púrpuras unhas arranham o céu de areia  Saltam dos olhos dos bêbedos sangue e prata Tranças de ferro em meio a comida Cenas se misturam em noites loucas e frias Amalgamados estão sob viadutos um turbilhão de vidas

O Cosmopolitismo em Augusto de Campos e o poeta provençal Arnaut Daniel

A soma da sabedoria humana não está contida em nenhuma linguagem e nenhuma linguagem em particular é CAPAZ de exprimir todas as formas e graus da compreensão humana. Ezra Pound (pág. 38: 1995) É em muito a contribuição de Haroldo e Augusto de Campos para a literatura brasileira, contribuição essa que em grande parte está nas diversas traduções que os irmãos realizaram. E é a partir desse trabalho que a língua portuguesa possui uma visão de diversas obras e de escritores que fazem parte da literatura mundial. A partir do trecho acima, na qual Ezra Pound afirma que nenhuma linguagem é capaz de conter em si toda a sabedoria humana é entendido que o cosmopolitismo é imanente à literatura. Nessa direção, creio que o motivo disso está no fato da necessidade urgente da literatura de dizer e de tentar refletir fatos, sentimentos e reproduzir diferentes culturas. Trato aqui, não de um cosmopolitismo rígido e ideológico, mas sim daquele que se volta para as relações multiculturais, um ...

Álvares de Azevedo, Byron: cosmopolitismo e nacionalismo

Durante o romantismo realizado no Brasil, muitos poetas optavam por uma estética vinculada, aos dramas nacionais e alguns até acreditavam que para se consolidar a literatura brasileira era necessário tratar das paisagens locais. Ainda que Àlvares de Azevedo seja um poeta do período romântico da literatura brasileira, a temática de sua poesia não está vinculada àquela tentativa de desprendimento da literatura européia e de dar forma a uma identidade nacional, algo que aconteceu com os escritores categorizados como de primeira geração.  Ao avaliar o opúsculo de Gonçalves de Magalhaens, no momento em que o autor fala Sobre a História da Literatura no Brasil fica evidente seu caráter de manifesto, ou melhor, o autor dá exemplos literários e históricos destinados a um fim, ou seja, o autor evidencia certo instinto oculto , que pensava ser necessário para a formação de uma literatura nacional. Para Gonçalves de Magalhaens, a paisagem brasileira seria a matéria de poesia necessá...

Na estrada com Jack Kerouac e Walter Salles

A pé e com o coração iluminado, adentro a estrada aberta, Saudável, livre, o mundo adiante de mim,  a longa senda marrom em minha frente, conduzindo-me para onde [quer que eu escolha. A partir de agora não peço mais pela boa sorte, pois eu mesmo sou [a boa sorte, A partir de agora abandono as lamúrias, não mais procratismo, de [nada mais necessito, Estou farto de reclamações entre quatro paredes, bibliotecas, críticas [conflituosas Forte e satisfeito eu viajo pela estrada aberta.(...) Jack Kerouac em 1951, a partir das viagens e situações vivenciadas que duraram aproximadamente sete anos, com seus amigos: Neal Cassady, Allen Ginsberg e Willian S. Burroughs, escreveu em poucas semanas o Romance que seria considerado anos mais tarde a Bíblia da juventude norte-americana. E mais do que isso, um símbolo da geração Beat. No entanto, o sucesso do livro não ocorreu tão rápido, o livro de Kerouac chegou a ser rejeitado por muitas editoras e revisado várias ve...

A eternidade

Achada, é verdade? Quem? A Eternidade. É o mar que se evade Com o sol à tarde. Alma sentinela Murmura teu rogo De noite tão nula E um dia de fogo. A humanos sufrágios, E impulsos comuns Que então te avantajes E voes segundo... Pois que apenas delas, Brasas de cetim, O Dever se exala Sem dizer-se: enfim. Nada de esperança, E nenhum oriétur. Ciência em paciência, Só o suplício é certo. Achada, é verdade? Quem? A Eternidade. É o mar que se evade Com o sol à tarde. Rimbaud (Tradução: Ivo Barroso)

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme - este operário das ruínas - Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! "Eu" Augusto dos Anjos

Idealização da Humanidade Futura

Rugia nos meus centros cerebrais A multidão dos séculos futuros __ Homens que a herança de ímpetos impuros Tornara etnicamente irracionais! Não sei que livro, em letras garrafais Meus olhos liam! No húmus dos monturos, Realizavam-se os partos mais obscuros, Dentre as genealogias animais! Como quem esmigalha protozoários Meti todos os dedos mercenários Na consciência daquela multidão... E, em vez de achar a luz que os Céus inflama, Somente achei moléculas de lama E a mosca alegre da putrefação! Augusto dos Anjos