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Mostrando postagens de 2012

Sempre

Jamais se saberá com que meticuloso cuidado Veio o Todo e apagou os vestígios de Tudo E Quando nem mais suspiros havia Ele surgiu de um salto Vendendo súbitos espanadores de todas as cores! Mario Quintana ( O aprendiz de feiticeiro)

O dia

O dia de lábios escorrendo luz O dia está na metade da laranja O dia sentado nu Nem sente os pesados besouros Nem repara que espécie de ser... ou deus... ou animal                           [é esse que passa no frêmito da hora Espiando o brotar dos seios. Mario Quintana (O aprendiz de feiticeiro)

Lua perdida

Lua perdida nos muitos cantos do mundo assombrando os sonhos. Às vezes adormecida no rastro vermelho do sol. Junto  com a trama secreta do destino acorda seu nome acorda também seus pássaros e à noite seus mistérios. Pollyanna Nunes Ramalho 2008
Escritores da Liberdade (Freedom Writers, EUA 2007) é um daqueles filmes que bem representa a realidade contemporânea das escolas e das relações entre professores e alunos. A partir disso, pretendo relacionar o filme com algumas assertivas de Inês Assunção de Castro no artigo Da Condição Docente: Primeiras Aproximações Teóricas. O filme conta a história de uma professora recém-formada, Erin Gruwell (Hilary Swank), que tem o interesse de lecionar Língua Inglesa, mas que não imaginava os desafios que estavam por vir. O enredo, inicialmente, apresenta desde questões burocráticas que fazem parte da vida dos professores, como exemplo a admissão e os primeiros contatos com a diretoria da escola até as relações com os alunos. Também, é interessante observar as diferenças sociais entre os professores e alunos. Se Erin, formada em Direito, como outros docentes e membros da diretoria da escola, tiveram acesso a uma educação que lhes deram uma formação e uma profissão, os alunos, neste c...
CASTRO, Amélia Domingues de.  A trajetória histórica da Didática , Série Idéias n. 11, São Paulo, FDE, 1991. SOARES, Magda B.  Didática: uma disciplina em busca de sua identidade.  ANDE São Paulo, 1985. Múltiplas são as teorias e as tendências pedagógicas que perpassam a história. No entanto, a meu ver, poucas mudanças foram realizadas quando se pensa na realidade docente. Talvez, um dos motivos que dificulta essa prática docente é o não esclarecimento da Didática como disciplina substancial na formação de professores, bem como no desenvolvimento do discente e da comunidade escolar como um todo. Em “A Trajetória Histórica da Didática”, Amélia Domingues de Castro traça o percurso do campo de estudos da Didática desde o século XVII até a atualidade. Nesse sentido, a autora pontua os objetos de estudo desse campo ao longo do tempo. Se inicialmente, tem - se por Comênio e Ratíquio a ideia de uma nova disciplina como “Arte de ensinar tudo a todos” baseado por ...

Resenha do capítulo: “Penser/Classer” de Geoges Perec

Neste trabalho, apresento, uma resenha sobre o capítulo XIII do livro “Pensar/Clasificar” (título traduzido do original em Francês “Penser/Classer”), de Georges Perec. Capítulo no qual, o autor, ao mesmo tempo em que se detém sobre reflexões acerca do (in) classificável, ou seja, da ideia de uma ordem ou desordem, do que se é possível ou não nomear, dizer, listar e numerar. Lança mão de categorias, como o alfabeto, para mostrar sua arbitrariedade. Passando à estruturação do artigo, o autor divide cada subtítulo com as letras do alfabeto francês. E o inicia com a letra D, fugindo assim da ordenação comum do alfabeto. Desse modo, o autor nos deixa claro que Pensar é ir além de simplesmente categorizar ou classificar. Em Sumario , primeiro subtítulo do texto, e que normalmente temos uma introdução do tema tratado, Perec engloba os 26 subtítulos: Sumario - Métodos - Preguntas - Ejercicios de vocabulário - El mundo como rompecabezas - Utopías - Veinte mil leguas – de viaje su...

Linhas talhadas

Os pés pisam os caminhos. Sobre a textura da terra, da areia, da grama, da brita, do asfalto, dos céus   e dos infernos. E os caminhos?   São criados por puro Acaso? Ou o corte das águas e as trilhas marcadas são realizadas por pura ação do tempo? A borra do café e as linhas das mãos são como os caminhos. Os caminhos guardam mistério, São in (felizes) e in (humanos). São fluidos densos de sensações em constante transformação talhando o tempo e o espaço. Pollyanna Nunes Ramalho 10/04/12

As cidades e os símbolos 2

Da cidade de Zirma, os viajantes retornam com memórias  bastante diferentes: um negro cego que grita na multidão, um  louco debruçado na cornija de um arranha-céu, uma moça que  passeia com um puma na coleira. Na realidade, muitos dos ce- gos que batem as bengalas nas calçadas de Zirma são negros,  em cada arranha-céu há alguém que enlouquece, todos os lou- cos passam horas nas cornijas, não há puma que não seja cria- do pelo capricho de uma moça. A cidade é redundante: repete- se para fixar alguma imagem na mente. Também retorno de Zirma: minha memória contém dirigi- veis que voam em todas as direções à altura das janela, ruas de lojas em que se desenham tatuagens na pele dos marinhei- ros, trens subterrâneos apinhados de mulheres obesas entre- gues ao mormaço. Meus companheiros de viagem, por sua vez, juram ter visto somente um dirigível flutuar entre os pináculos da cidade, somente um tatuador dispor agulhas e tintas e dese- nhos...
" (...)  Admitirá que segredos iguais se cultivam na grande cidade e, mesmo, que uma cidade, exclusão feita de prédios, veículos, objetos e outros símbolos imediatos, não é mais que a conjugação de inúmeros segredos dessa ordem, idênticos e incomunicáveis entre sí, e pressenrtidos somente por poesia ou amor, que é poesia sem necessidade de verso. (...)" Carlos Drummond de Andrade

As cidades e a memória 3

Inutilmente, magnânimo Kublai, tentarei descrever a cidade de Zaíra dos altos bastiões. Poderia falar de quantos degraus são feitas as ruas em forma de escada, da circunferência dos arcos dos pórticos, de quais laminas de zinco são recobertos os tetos; mas sei que seria o mesmo que não dizer nada. A cidade não é feita disso, mas das relações entre as medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado: a distância do solo até um lampião e os pés pendentes de um usurpador enforcado; o fio esticado do lampião à balaustrada em frente e os festões que empavesavam o percurso do cortejo nupcial da rainha; a altura daquela balaustrada e o salto do adúltero que foge de madrugada; a inclinação de um canal que escoa água das chuvas e o passo majestoso de um gato que se introduz numa janela; a linha de tiro da canhoneira que surge inesperadamente  atrás do cabo e a bomba que destrói o canal; os rasgos nas redes de pescae os três velhos remendando as redes que, sentados no molhe, contam pel...

As cidades e a memória 1

Partindo dali e caminhando por três dias em direção ao levante, encontra-se Diomira, cidade com sessenta cúpulas de prata, estátuas de bronze de todos os deuses, ruas lajeadas de estanho, um teatro de cristal, um galo de ouro que canta todas as manhãs no alto de uma torre. Todas essas belezas o viajante já conhece por tê-las visto em outras cidades. Mas a peculiaridade desta é que quem chega numa noite de setembro, quando os dias se tornam mais curtos e as lâmpadas multicoloridas se acendem juntas nas portas das tabernas, e de um terraço ouve-se a voz de uma mulher que grita: uh! é levado a invejar aqueles que imaginam ter vivido uma noite igual a esta e que na ocasião se sentiram felizes. Italo Calvino( As cidades Invisíveis – Tradução Diogo Mainardi)

A chave

Agora era tarde para dizer que não ia, agora era tarde. Deixara que as coisas se adiantassem muito, se adiantassem demais. E então? Então teria que trocar a paz do pijama pelo colarinho apertado, o calor das cobertas pela noite gelada, como nos últimos tempos as noites andavam geladas! País tropical ... Tropical, onde? " Foi-se o tempo", resmungou em meio de um bocejo. Devia haver no inferno o círculo social, aparentemente o mais suportável de todos, mas só na aparência. Homens e mulheres com roupa de festa, andando de um lado para outro, falando, andando, falando, exaustos e sem poder descansar numa cadeira, bêbados de sono e sem poder dormir, os olhos abertos, a boca aberta, sorrindo, sorrindo ... O círculo dos superficiais, dos engravatados, embotinados, condenados a ouvir e a dizer besteiras por toda a eternidade. "Amém", sussurrou distraidamente. Cerrou os olhos. Cerrou a boca. Mas por que essa festa? "Estou exausto,  compreende? Exausto!", quis grit...