terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Ein Schöner Tag/ Um belo dia Schiller

Um belo dia –
quando ele para o fim vai
não é mais
como foi...


Tradução Pollyanna Nunes Ramalho


Ein Schöner Tag
Schiller

Ein schöner Tag -
wenn er zu Ende geht,
ist nichts mehr,
wie es war...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

030 campanha política

Mal abro a porta do quarto ela ajoelha, abre a
braguilha e começa o serviço. Em pleno corredor.
Me afasto. Está tão chapada que cai de cara no
chão. Rasteja até minha cintura de novo. Sinto
cheiro. Devo ser o sexto ou o sétimo nessa noite.
Empurro sua cabeça. Ela pergunta se "não gosto
da coisa". Só eu sei o quanto preciso de uma
chupada, mas aquilo está além da mais básica
covardia. Argumento que estou com sono, que
preciso acordar cedo, o "candidato, sabe como
é ... " Ela diz que, se "gosto da coisa", vai ter de
terminar ... recebera adiantado e não queria dever
nada a ninguém.

(São Luís - Brasil - 1990)

Fernando Bonassi ( Mini conto/Livro Passaporte)

017 meus caros amigos

Jasper estar entregando pizzas com a 250.
Malu aprende alemão a frases vistas. Marcelo
arrumou um namorado economista. Marc não
quer mais pintar quadros sem coisas pulando
pra fora da tela. Osvalgo tem uma coreografia
pronta e agora tenta convencer bailarinos a
trabalhar de graça. Adriana demitiu-se. Suleyman
finalmente comprou mostarda americana pros
sanduíches. Christian conseguiu a tradução
russa d' O Pequeno Príncipe. Lore está se desin-
toxicando e acabou com os meus Lexotans.
Preciso comprar chinelos, passar Minâncora
nas espinhas e ter mais paciência.

(Berlim Ocidental - Alemanha - 1998)

Fernando Bonassi ( Mini conto/Livro Passaporte)

Tradução Música Ruhe/Calma Schiller

 Calma

O amor nada conhece
ele ainda nem conhece a porta nem a tranca
e tudo penetra-se a fundo.
Ele está desde o início,
derrotando suas eternas asas
e é  golpeado – eternamente.
 
Tradução  Pollyanna Nunes Ramalho 12/12/11


Ruhe


Die Liebe kennt nichts,
Sie kennt weder Tür noch Riegel
und dringt durch alles sich.
Sie ist von Anbeginn,
schlug ewig ihre Flügel
und wird sie schlagen - ewiglich 



http://www.vagalume.com.br/schiller/ruhe.html



sábado, 17 de dezembro de 2011

Amante

Continuo de tempo em tempo
a desejando como um felino.
Tu sabes que de tempo em tempo
farejo teu aroma alucinante.
Tua luz é a luz de um rei com sua coroa e
essa luz é a da alma que sozinha não tem sossego.

Amante, precisa  estar livre de teus medos,
de tuas proteções.
Meu desejo é branco, puro, diabólico.

Todas as ânsias corporais estão aqui
e não aceitam o teu Não.

Sinta sem medo, estou em ti
e me aproveito disso.

Em ti estou com todo o
peso da virilidade, não há proteções!




Pollyanna Nunes Ramalho 18/12/11









terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Cidadezinha Qualquer

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.

Carlos Drummond de Andrade


Dissolução


Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite.

E com ela aceito que brote
uma ordem outra de seres
e coisas não figuradas.

Braços cruzados

Vazio de quanto amávamos,
mais vasto é o céu. Povoações
surgem do vácuo.
Habito alguma?

E nem destaco a minha pele
da confluente escuridão.
Um fim unânime concentra-se
e pousa no ar. Hesitando

E aquele agressivo espírito
que o dia carreia consigo,
já não oprime. Assim a paz,
destroçada

Vai durar mil anos, ou
extinguir-se na cor do galo?
Esta rosa é definitiva,
ainda que pobre.

Imaginação, falsa demente,
já te desprezo. E tu, palavra.
No mundo, perene trânsito,
calamo-nos.
E sem alma, corpo, és suave.

Carlos Drummond de Andrade (Claro Enigma - Segmento Entre Lobo e Cão)



segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Fraga e Sombra

A sombra azul da tarde nos confrage.
Baixa, severa, a luz crepuscular.
Um sino toca, e não saber quem tange
é como se este som nascesse do ar.

Música breve, noite longa. O alfanje
que sono e sonho ceifa devagar
mal se desenha, fino, ante a falange
das nuvens esquecidas de passar.

Os dois apenas, entre céu e terra,
sentimos o espetáculo do mundo,
feito de mar ausente e abstrata serra.

E calcamos em nós, sob o profundo
instinto de existir, outra mais pura
vontade de anular a criatura.

Carlos Drummond de Andrade (Claro Enigma)





Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade (Livro Claro Enigma)