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Mostrando postagens de dezembro, 2011

030 campanha política

Mal abro a porta do quarto ela ajoelha, abre a braguilha e começa o serviço. Em pleno corredor. Me afasto. Está tão chapada que cai de cara no chão. Rasteja até minha cintura de novo. Sinto cheiro. Devo ser o sexto ou o sétimo nessa noite. Empurro sua cabeça. Ela pergunta se "não gosto da coisa". Só eu sei o quanto preciso de uma chupada, mas aquilo está além da mais básica covardia. Argumento que estou com sono, que preciso acordar cedo, o "candidato, sabe como é ... " Ela diz que, se "gosto da coisa", vai ter de terminar ... recebera adiantado e não queria dever nada a ninguém. (São Luís - Brasil - 1990) Fernando Bonassi ( Mini conto/Livro Passaporte)

017 meus caros amigos

Jasper estar entregando pizzas com a 250. Malu aprende alemão a frases vistas. Marcelo arrumou um namorado economista. Marc não quer mais pintar quadros sem coisas pulando pra fora da tela. Osvalgo tem uma coreografia pronta e agora tenta convencer bailarinos a trabalhar de graça. Adriana demitiu-se. Suleyman finalmente comprou mostarda americana pros sanduíches. Christian conseguiu a tradução russa d' O Pequeno Príncipe. Lore está se desin- toxicando e acabou com os meus Lexotans. Preciso comprar chinelos, passar Minâncora nas espinhas e ter mais paciência. (Berlim Ocidental - Alemanha - 1998) Fernando Bonassi ( Mini conto/Livro Passaporte)

Tradução Música Ruhe/Calma Schiller

 Calma O amor nada conhece ele ainda nem conhece a porta nem a tranca e tudo penetra-se a fundo. Ele está desde o início, derrotando suas eternas asas e é  golpeado – eternamente.   Tradução  Pollyanna Nunes Ramalho 12/12/11 Ruhe Die Liebe kennt nichts, Sie kennt weder Tür noch Riegel und dringt durch alles sich. Sie ist von Anbeginn, schlug ewig ihre Flügel und wird sie schlagen - ewiglich  http://www.vagalume.com.br/schiller/ruhe.html

Amante

Continuo de tempo em tempo a desejando como um felino. Tu sabes que de tempo em tempo farejo teu aroma alucinante. Tua luz é a luz de um rei com sua coroa e essa luz é a da alma que sozinha não tem sossego. Amante, precisa  estar livre de teus medos, de tuas proteções. Meu desejo é branco, puro, diabólico. Todas as ânsias corporais estão aqui e não aceitam o teu Não. Sinta sem medo, estou em ti e me aproveito disso. Em ti estou com todo o peso da virilidade, não há proteções! Pollyanna Nunes Ramalho 18/12/11

Dissolução

Escurece, e não me seduz tatear sequer uma lâmpada. Pois que aprouve ao dia findar, aceito a noite. E com ela aceito que brote uma ordem outra de seres e coisas não figuradas. Braços cruzados Vazio de quanto amávamos, mais vasto é o céu. Povoações surgem do vácuo. Habito alguma? E nem destaco a minha pele da confluente escuridão. Um fim unânime concentra-se e pousa no ar. Hesitando E aquele agressivo espírito que o dia carreia consigo, já não oprime. Assim a paz, destroçada Vai durar mil anos, ou extinguir-se na cor do galo? Esta rosa é definitiva, ainda que pobre. Imaginação, falsa demente, já te desprezo. E tu, palavra. No mundo, perene trânsito, calamo-nos. E sem alma, corpo, és suave. Carlos Drummond de Andrade (Claro Enigma - Segmento Entre Lobo e Cão)

Fraga e Sombra

A sombra azul da tarde nos confrage. Baixa, severa, a luz crepuscular. Um sino toca, e não saber quem tange é como se este som nascesse do ar. Música breve, noite longa. O alfanje que sono e sonho ceifa devagar mal se desenha, fino, ante a falange das nuvens esquecidas de passar. Os dois apenas, entre céu e terra, sentimos o espetáculo do mundo, feito de mar ausente e abstrata serra. E calcamos em nós, sob o profundo instinto de existir, outra mais pura vontade de anular a criatura. Carlos Drummond de Andrade (Claro Enigma)

Memória

Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão. Carlos Drummond de Andrade (Livro Claro Enigma)