quinta-feira, 14 de março de 2024

o lero lero que ouvi

Estava pensando como escrever um conto. Só que há um problema, não gosto de falar de mim, o que parece inevitável muitas vezes. Então teria que inventar uma estória. Ouvi dizer que quem conta um conto aumenta um ponto. Difícil criar uma estória. Não queria falar sobre mim, está que narra. A narrativa é um (entre)mesclar de palavras, frases e como dizer tudo com palavras doces, se a maior parte dos que convive entre nós: aqueles, que você o leitor bem conhece, não têm uma língua tão amistosa. O escritor não parece escrever para agradar, ao que parece escreve por escrever. Na verdade, não sei, vai de sua língua, de seu pesar. O agradável está nos sentidos de quem lê e não nas  mãos de quem escreve. Vou dizer por mim, quando leio uma estória, às vezes fecho os olhos e abro de novo e penso na grandiosidade da simplicidade de palavras de alguns escritores. Já ouvi muito lero lero. E reparo muito, não sei o motivo, mas reparo nas palavras. Será que estou em boas mãos, às vezes me pergunto? Há aquelas pessoas que conseguem ver um todo, no sentido da frase e de uma amplitude no conjunto de palavras e frases - só que eu não consigo, sempre olho as palavras. Quando, não sei uma palavra, então aquilo me deixa reflexionante. Fiquei pensando neste lero lero... que ouvi. E gostei de ouvir ... dizer lero lero, porque ele disse na sua simplicidade. Um conto, uma estória é quase um lero lero, no sentido da letra. Todo mundo sempre quer escrever e ser como muitos dos grandes autores. Algo difícil porque são imbatíveis e com toda certeza sobre o que estou falando tem algo de lero lero… O lero lero é para distrair é para esquecer um pouco o que não se quer lembrar. É para dizer de modo sútil, não gosto disso. Só que, queria mesmo era que o tempo voltasse, a sucessão de acontecimentos. Parece estranho dizer isso: porque o tempo não volta. Sempre achei que não, eu acho que não. Queria que voltasse apenas há cinco anos ou sete anos. Só que o tempo não volta... E não sei falar sobre o tempo. O tempo é algo difícil e quando a chuva cai nunca sei se é bom, também nuca sei se a lua grande e brilhante na janela é bom. Hoje, é dia de sol ao menos aqui onde estou. O sol é tudo. Só que o sol é muito sublime. A chuva também é sublime, o rio e o mar, o vento – só que o sol é imbatível. O sol aquece e queima. O sol ilumina e ofusca. Do sol é preciso se proteger. Ele nos dá vida, mas há certa distância necessária. Tudo o que sei é que o sol é importante. O lero lero é um modo de proteger àqueles que amamos. Vou encher este texto de lero lero, de palavras soltas para não deixar e não colocar nada do que é importante para mim visível. É um modo de figuração, o que na poesia acho mais próximo. A figuração, a transfiguração é o caminho – de dizer – sem dizer, o que você sabe. Por isso, estou aqui me esforçando para dizer isso a você que sabe ou que deveria saber que as palavras que mais me envolvem são as simbólicas. E que está difícil explicar a apenas quem precisa saber. Li um poema e minha dúvida permanece: O poema chama “Reencontro com a amada” é de um escritor a outro alguém. E o verso fica em meu pensamento “Mas não o já velado, revelado demais que desencantou”. E a minha dúvida de leitora assídua, há anos, permanece. E outro verso “Mas a nudez nem existe.”. "O pio do quero-quero" e amizade, será que existe? "saya’su, acauã". E o que fica. E o que é importante. São muitas dúvidas.

De Pollyanna Nunes Ramalho

Tipografia do coração

Não sei quais palavras escolher quando penso em você, ou no que fomos. E toda palavra
aleatória de pessoas: amigos e amigas me faz lembrar daqueles momentos que olhava seu
rosto contra o sol e era como se fosse tudo. À vezes não sei bem de quem estou falando acho que este você não existi . Existe e talvez seja a mim uma mescla de um ideal de alguém que goste ou gostei muito. Está na minha vida como um momento de paz tão difícil – ainda mais agora. É dissonante feito o ar, uma respiração. Sinto sua falta ou de mim. Eu não sei, estou mesmo cansada. Explicar as minhas dores é difícil. Não era pessoas novas que queria na minha vida, era você ou que tudo estivesse bem. E não pode imaginar o que tem sido a mim. E quer saber, você era feito flores caídas que forravam o meu chão ou um ar, ou um fôlego quando tudo estava ruim ou talvez você era aquele olhar que eu carregava ou você era o nó na minha garganta. Ajudava pensar em você quando tudo estava completamente impossível e mesmo nas minhas palavras mais vulgares por engano foi porque
no fundo imaginei você no amago da minha existência. E me cansa mais ainda me sentir uma sonambula pelas tardes do meu dia e mais ainda me enfastia certas coisas que não pode entender. As palavras rudes dos seus, você não sabe. Doem. Doem mais ainda os meus e ver tudo igual todos os dias. E escondo a sua existência nas minhas palavras. E não se pode saber porque não tenho imagem alguma sua, lembrança. Aquelas cartas talvez tenha guardadas alguma ou talvez jogou todas fora. Já não sei mais o que sou e se é você quem é importante ou quem me ensinou tantas coisas. Tudo se mistura. O que adianta ver alguém parecido com você se não é você. É um reflexo, uma fisionomia, um contorno mal feito do que é você. As minhas dúvidas são tantas. Quem é você? (Ce) não posso mais dizer  – acordo e não quero mais falar de seu nome –


Os olhos,
Os olhos são de cores variadas e modos diversos, são olhos,
a pupila dilata quando algo surpreende,
o que se vê fora é de dentro,
o externo não funciona sem o interno,
os olhos olham, a visão de ver é uma verdade
que vem de dentro ao ver o externo, o mundo existe a partir de um olhar
o mundo sem o olhar humano, é ininteligível
– inscreve-se aqui com aponta do lápis ou caneta –
e quando se acorda de manhã o mundo é visível.
Olhos são o espelho da alma, mas ao contrário do que se pensa,
os olhos não estão fora, mas dentro.

Por Pollyanna Nunes Ramalho