Gregor
Samsa e a sua metamorfose
Em “A metamorfose”, livro
narrado em terceira pessoa, Franz Kafka nos conta a história de um homem,
Gregor Samsa, que se torna um inseto. A estranheza do enredo vem à tona logo na
primeira frase da novela: “Quando Gregor Samsa, numa certa manhã despertou de
seus sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama transformado em um inseto
monstruoso”. (p. 1, 2007, tradução nossa). A partir de sua metamorfose, Samsa,
enquanto inseto estranho, não consegue mais realizar suas atividades diárias,
como por exemplo, o trabalho de caixeiro-viajante. Assim, o narrador descreve minunciosamente as
dificuldades do protagonista ao se levantar da cama, ao perceber-se atrasado
para o trabalho. Além disso, a obra cria certa expectativa na aparição do
inseto à família e ao procurador da empresa, que vai até a casa de Samsa para
saber a respeito de seu atraso na estação ferroviária.
O pai (figura importante
em toda obra de Kafka), a mãe e a irmã Grete, além do procurador, ficam todos
assustados com a aparição de tal inseto. E talvez, a maior estranheza da cena
está no fato de Samsa, mesmo com a aparência repugnante de um bicho, possuir
ainda as características psicológicas humanas. Partindo desse ponto, todas as
relações afetivas e profissionais construídas pelo protagonista se desfazem. O
trabalho que sustenta a família, bem como a convivência torna-se algo
improvável.
Grete é, ao longo da
narrativa, a única que leva comida para o irmão, tentando assim, estabelecer a
velha relação, pois era ele quem a incentivara a fazer o curso de violino. Não
obstante, dia após dia, a repugnância ao inseto se demonstra através dos sustos
e da rejeição. Além disso, a família se vê sem a força de trabalho deste
provedor, que antes pagaria o curso de violino e as principais contas da casa,
e que após a metamorfose torna-se um estranho a ocupar um quarto e a causar
constrangimento à família.
Durante toda narrativa
instala-se o impedimento afetivo na convivência familiar até a morte de Gregor.
Portanto, é interessante observar como em “A metamorfose” o desemprego e a
crise econômica se colocam como pano de fundo necessário na compreensão da
obra. No fim da história, o estranho se apercebe de sua condição inútil e
subterrânea dentro do âmbito familiar e morre em seu quarto sozinho.
Após a morte de Gregor, a
empregada empurra seu corpo com a vassoura e, como descreve o narrador, era o
fim do mês de março, ou seja, o início do verão, desse modo, a morte sublinha o
fim da angustia vivida pela família. A metamorfose representa não só a mudança
no ambiente familiar, mas, sobretudo, a transformação do sujeito a partir da
exploração, que dentro da organização social da época não serve, senão para o
trabalho.
Pollyanna Nunes Ramalho
Texto em:
Nenhum comentário:
Postar um comentário