segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Tu - Pantera - escura noite!

Tu - Pantera - escura noite!
Largando pêlo na treva
a luz se mescla, amarela, 
e lustra o dorso da serra.

Que sol, girassol de encosta,
moeu seu grão nessa esteira?
Que lua sangrou - te a fronte
ó noite escura - pantera?

Um astro brilha em melaço
orvalho da fome negra
poreja tua língua inerme.

Rompendo, o verde te cega,
o olhar se aquieta em cisternas
e a aurora baixo em teu rastro.


Maria Ângela Alvim





quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Friedrich Nietzche

A mulher completa incorre em literatura como incorre num pecadilho: como experiência, de passagem, olhando em volta para ver se alguém a está notando, que alguém a está notando...

 (Crepúsculo dos Ídolos: Tradução de Paulo César de Souza)

Mulher Adomercida

Moro no ventre da noite:
sou a jamais nascida.
E a cada instante aguardo vida.

As estrelas, mais o negrume
são minhas faixas tutelares
e as areias e o sal dos mares.

Ser tão completa e estar tão longe!
Sem nome e sem família cresço,
e sem rosto me reconheço.

Profunda é a noite onde moro.
Dá no que tanto se procura.
Mas imtransitável, e escura.

Estareium tempo divino
como árvore em quieta semente,
dobrada na noite, e dormente.

Até que de algum lado venha
a anunciação do meu segredo
desentranhar-me deste enredo,

arrancar-me à vaguesa imensa,
consolar-me deste abandono,
mudar-me a posição do sono.

Ah, causador dos meus olhos,
que paisagem cria ou pensa
para mim, a noite é densa?

Cecília Meireles ( Livro Mar Absoluto)

As ilhas Afortunadas

Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.

E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança 
Dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas,
são terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se  vamos despertando,
Cala a voz, e há só mar.

Fernando Pessoa (Livro Mensagem)













quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Belo Artesanato



Estou só não nego, sempre enamorada
Tudo isso me mostra que sim
por isso é aventura sem fim.
Estou virando uma libertária.
Essa completa escassez de Arte
demontra-me o valor do artesão
e estar a me ensinar a paixão.

Piedade! Estou a sentir em toda parte!

Acho que não vou querer piedade,
nossa... reclamação sem fundamento que
não faz parte desse nosso entendimento.

Que palavras sem habilidades...

Penso que aprendi a lição
de o amar docemente Artesão.


Pollyanna Nunes Ramalho 2003

















Incerteza



Estar confusa, sem saber para onde ir...
Qual o caminho seguir...
Isso é muito leviano?

É no meio de toda essa confusão
que a maior incerteza que tenho é o meu amar-te.
Mas isso me causa inspiração.

Tu que tiras o meu fogo,
que tiras o meu frio,
que tiras a minha dor,
que me deixa sem segmentos.

A incerteza, o não estar é uma pobreza,
mas o amor não.

Pollyanna Nunes Ramalho















Cavaleiro das Armas Escuras



Cavaleiro das armas escuras, conheço a ti.
Sim, o conheço! De onde? De um poeta romântico.
Penso que há uma ilusão
por isso se tornou esse sanguinário.

Oh! Cavaleiro, lembro-me de ti, lembro-me 
daquela inocência que se perdeu.
O que estás fazendo?
O que estás segurando?
Quer provar algo?

Tu cavas a morte  e o fado.
Com a espada envolvida de fogo e ganância 
tu provas a minha mortalidade e a coragem de um covarde.

Pollyanna Nunes Ramalho 2004

















segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Meu íntimo





Quando estou aqui,
assim, no meu íntimo.
É neste momento que eu vejo o céu.

Não o céu de tom azul oceano dia,
mas sim, o céu azul oceano noite 
e não é aquele céu oceano noite estrelado.
Estrelado é só nos pequenos cantos do mundo,
onde a iluminação engenhosa não chegou.

Meu íntimo é como o céu oceano estrelado.

Pollyanna Nunes Ramalho

A marcha da História

Eu me encontrei no marco do horizonte
Onde as nuvens falam,
Onde os sonhos têm mãos e pés
E o mar é seduzido pelas sereias.

Eu me encontrei onde o rel é fábula,
Onde o sol recebe a luz da lua,
Onde a música é pão de todo dia
E a criança aconselha-se com as flores.

Onde o homem e a mulher são um,
Onde espadas e granadas
Transformam-se em charruas,
E onde se fundem verbo e ação.