quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cor

Para um tempo de olhar a cor é breve
e já no repensar foge ao momento.
Quis ser na flor, no adeus, no rio lento,
mas se não há memória, não se atreve.



E mesmo no destino quase leve
das coisas que não sofrem entendimento
no indiferir do mundo desatento,
flor, adeus ou rio, — a cor é breve.



Laçando uma tenuíssima aparência
ao engano de ser, entretecida,
a cor, refluindo, é vã sobrevivência.



Mal se anuncia em tons, e apenas crível
Na remontante fuga da subida
demora azul, refeita de invisível.
(Livro Barca do Tempo)

A árvore não brotou no Jardim

A árvore não brotou no Jardim.
Desconheço a doçura do seio das flores.
Sou fruto das raízes.

Os finos dedos do vento

Os finos dedos do vento
contaram os meus cabelos.
Meu corpo é o violino
nos leves dedos do vento.
(Livro Superfície)

Não mais a estrela será tão alta

Não mais a estrela será tão alta
na grade dos dedos.
Está no lago
no espelho da noite
na mão suicida.
No lago
no espelho da noite
flutua a face da afogada.
(Livro Superfície)

Meus olhos são telas d'água

Meus olhos são telas d'água,
não ferem a perfeição.
(Livro Superfície)

A sementeira de mortos. O rio.

A sementeira de mortos. O rio.
— Transformei-me em salgueiro
no rio da morte.
(Livro Superfície)